Matera, localizada na região de Basilicata, no sul da Itália, foi eleita a Capital Europeia da Cultura em 2019, com a realização de festivais e exposições durante todo o ano.

“Quero que as pessoas tenham uma experiência capaz de mudar suas vidas”, diz Salvatore Adduce, presidente da Matera Basilicata 2019 Foundation. “Os visitantes serão habitantes culturais temporários e poderão deixar um item pessoal na cidade ao final da estadia. No fim do ano, essas peças farão parte de uma exposição própria.”

No “peito do pé” do formato de bota do mapa da Itália – entre Calábria e Puglia – com dois litorais ao seu redor, Matera é um dos lugares mais antigos ainda habitados do planeta, ficando atrás somente de Aleppo, na Síria, e Jericó, na Palestina.

A região da Basilicata remonta há cerca de 9 mil anos e sua história reflete dificuldades. Conquistada por bizantinos, ostrogodos, árabes, gregos e espanhóis, a região tem uma população em declínio de cerca de 600 mil pessoas, e o desemprego é maior do que no resto da Itália. Em 1932, Basilicata foi renomeada Lucânia pelos fascistas, nome que perdurou até 1948. Em 1945, o doutor Carlo Levi publicou suas memórias do exílio na cidade na obra “Cristo Parou em Eboli” (o livro não está disponível em português), que descreve a extrema pobreza, fome e doenças que assolaram a região.

Sassi (“as pedras”), esculpidas no calcário, serviram como moradias na cidade de Matera até a década de 1950, até que as autoridades declararam que as condições de vida ali eram inaceitáveis, tornando uma prática ilegal. Grande parte de La Città Sotterranea – a cidade subterrânea – não tinha água corrente, nem eletricidade.

Mas desde a década de 1980, quando o governo italiano investiu na reabilitação do sassi, os ambientes rústicos se transformaram em atração turística. Aqueles que habitavam as cavernas anteriormente começaram a voltar e a renovar os locais – muitos deles haviam sido deixados em ruínas. A partir daí, restaurantes, bares, hotéis e até mesmo um local exclusivo para o turismo começaram a surgir.

As 150 igrejas esculpidas em rocha datam dos séculos 14 a 16 e foram pintadas por monges. A Catedral de Matera, de 1270, conta com uma alta torre sineira e um afresco de estilo bizantino do século 14. San Pietro Caveoso e a San Pietro Barisano são outras notáveis igrejas em cavernas, ambas dedicadas ao Apóstolo Pedro.

Matera tem ganhado destaque em muitos filmes como uma substituta de Jerusalém – entre eles estão “A Paixão de Cristo” e “O Evangelho Segundo São Mateus”. A cidade é também o lar ficcional da Mulher Maravilha, Themyscira, no filme mais recente. Em 1993, a UNESCO fez de Matera um de seus patrimônios mundiais.

Os hotéis ajudaram a preservar estruturas antigas. A maioria parece albergues difusos, com muitas estruturas, que acabaram se tornando uma maneira popular de restaurar cidades antigas empobrecidas, mas atraentes, por toda a Itália. As antigas cavernas onde as pessoas viviam nos séculos passados foram reaproveitadas e transformadas em propriedades únicas e luxuosas para turistas sofisticados.

O Sextantio Le Grotte della Civita é um exemplo de hotel transformado. Ele está na parte mais antiga dos bairros de Sassi, de frente para o Parco Nazionale Alta Murgia, com cavernas paleolíticas. O hotel conta com 18 quartos e uma igreja antiga, mas com piso aquecido, banheiras Philippe Starck e wi-fi disponível.

O Sant’Angelo Resort, hotel cinco estrelas, mantém a essência das habitações nas cavernas, com excelentes vistas e fácil acesso à beleza natural local.

Opções gastronômicas

Na região é possível encontrar as primeiras receitas de massas da história e a gastronomia em Matera reflete isso muito bem. Os pratos incluem orecchiete con cima di rapa (um tipo de macarrão com brócolis de rabe); tapparelle; e lucane chiappute – pasta típica da região. O strascinati, por exemplo, pode ser comido com pão, salsa, molho de tomate e azeite, e é servido em uma cúpula com pimentas secas salteadas.

As carnes curadas, pimentas secas e queijos são deliciosos. O Caciocavallo Podolica Della Basilicata, queijo típico da região, é feito de leite de vacas que pastam nas montanhas dos Apeninos. Alcachofras fritas, saladas de pão com legumes e queijo local, pizza de massa fina, com mozzarella defumada e espinafre, crostini com chicória e purê de fava, almôndegas empanadas e folhas salgadas de sálvia também são boas opções da região.