Caros amigos e amantes do vinho, nesta matéria o amigo Marcelo Copello, um dos principais formadores de opinião da indústria do vinho no Brasil, com expressiva carreira internacional. Eleito “O MAIS INFLUENTE JORNALISTA DE VINHOS DO BRASIL” pela revista Meininger´s Wine Business International, e “Personalidade do Vinho” 2011 e 2013 pelo site Enoeventos, fala sobre a “Pinot Noir”; sua história, curiosidades e seus vinhos.
“Champagne para damas, Bordeaux para cavalheiros e Borgonha para reis.” (Provérbio Francês)
A Pinot Noir é uma das uvas (castas viníferas) mais antigas, cultivada há mais de 2 mil anos. Sua origem é a região da Borgonha, no leste da França. Há indicações que comprovam seu cultivo nesta região desde o século 4 d.C. A família das Pinots (Pinot Noir, Pinot Blanc, Pinot Gris, Pinot Meunier), que compartilham o mesmo DNA, tem como característica sofrer facilmente mutações, e geneticamente se adaptar a novos terrois. Isso para os vinhos nem sempre é bom, pois o sabor da Pinot Noir muda incrivelmente conforme o local onde ela é cultivada.
Poucas castas tem sua imagem e qualidade tão ligadas a uma região como a Pinot Noir à Borgoha (um outro caso seria a Nebbiolo no Piemonte-Itália). Os grandes tintos (e brancos) da Borgonha são um capítulo à parte na enologia mundial. Os grandes borgonhas são os maiores vinhos do mundo e uma espécie de “cálice sagrado”, que todos procuram mas poucos acham. Porque?
– Primeiro porque a Pinot Noir é uma casta difícil. Ao mesmo tempo que faz grandes vinhos pode também gerar líquidos insípidos.
– Segundo, pois a Borgoha é um mosaico de uma infinidade de produtores muito pequenos – as vezes em uma mesma região da borgonha, sob um mesmo nome, um produtor pode fazer um grande vinho e o outro uma zurrapa.
– Terceiro porque as produções são pequenas e a fama é grande, de modo que todo Borgonha, bom ou ruim, nunca é barato.
– E finalmente porque os vinhos de produtores consagrados em boas safras custam sempre preços exorbirantes.
Viticultura
A Pinot Noir (PN) é uma uva que prefere o frio, como na Borgonha e na Champagne, embora se adapte (nem sempre bem) a climas um pouco mais quentes, mas nunca quentes demais. A PN é muito sensível a variações do terroir, gerando vinho totalmente diferentes conforme o clima e o solo.
Não podemos esquecer que a PN vinificada “em branco” (sem suas cascas), é a alma do Champagne, que dá corpo e acidez ao famoso espumante francês. Nos espumantes elaborados em outros países e regiões, a PN é também muito utilizada.
Vinificação
A PN é uma uva delicada, pode se dar bem com pré-macerações a frio, macerações carbônicas. A maceração fermentativa geralmente não é longa, de uma a três semanas. As barricas da borgonha geralmente são ligeiramente pouco maiores que as de Bordeaux (passando assim um pouco menos de gosto de carvalho), e geralmente um pouco mais tostadas que as de Bordeaux, passando um pouco mais aromas de torrefação, como café.
Cor: o padrão dos vinhos de PN é serem claros ou de cor entre clara e escura, raramente muito escuros. São rubi violáceos quando jovem, mas logo (com poucos anos) atingem a coloração granada e depois alaranjada. Os Pinots de regiões frias da Europa quase sempre seguem este padrão de vinhos mais claros. Os do novo mundo geralmente são mais escuros e mais violáceos.
Aroma:
Frutas – PN geralmente é assiciada mais a frutas vermelhas que negras, como framboesa, cereja e morango.
Flores – violeta, rosa
Vegetais/ervas – tabaco, musgo
Especiarias – baunilha (do carvalho)
Animais – É bem tipico dos PN com mais idade ganhar aromas de couro, caça, defumados
Madeiras – carvalho
Tostados – café (do carvalho)
Mineral: É bem tipico dos PN com alguma idade o aroma de terra molhada, que é chamado pelos pelos franceses de sous bois e pelos italianos de sottobosco – que significa literalmente “debaixo do bosque” ou o cheiro que vem ao passear em um bosque depois da chuva no outono e levantarmos as folhas caidas no chão.
Outros: O aroma de cogumelo secos ou funghi secchi é também bem típico dos PN com alguma idade
Sabor
Doçura: quase sempre os PN estarão na categoria “seco”, com poucos gramas de açúcar residual (1 a 5), é o mais comum no mercado.
Acidez: geralmente “boa”, dependendo muito do clima (quanto mais frio o local, mais acidez), da colheita (quanto mais cedo se colhe, mais acidez),
Corpo: geralmente são de leves a de médio corpo, raramente muito encorpados
Álcool: geralmente são de alcoolicidade mediana, entre 13 e 14
taninos: ao contrário da Cabernet Sauvignon por exemplo, esta não é uma casta de muitos taninos, geralmente possui poucos a médios taninos, mais macios
Pinot Noir no mundo
Área plantada no mundo em milhares de hectares
França 25.900
Alemanha 8200
Moldavia 8200
EUA 6300
Suíça 4200
Itália 3600
África do Sul 3500
Romenia 1500
Nova Zelandia 1500
Os países com produção de PN de maior qualidade são: França (Borgonha, Loire, Champagne), Nova Zelândia, Chile, EUA (Oregon, Califórnia), Austrália (Yarra Valley e Tasmânia), Suíça , Alemanha, Itália (norte).
O nirvana da Pinot Noir é a Borgonha, cuja tradição no cultivo desta uva é milenar e tomou grande impulso ao longo dos século graças aos monges, pricipalmente os beneditinos e cistercienses e franciscanos. É da Borgonha o vinho que talvez goze do maior pretígio do mundo, o Romanée-Conti.
Embora todo filho de Deus (e discípulo de Baco) mereça um dia provar um Grand Cru da Borgonha, pela proximidade, qualidade e preço, o PN que mais vai nos interessar é o do Chile. Este pequeno país sul americano faz Pinot Noir de alta qualidade, com preço acessível e em estilo fácil de agradar. Os pinots do Chile são frutados, com cor mais intensa que os da Borgonha , com presença bem notável da madeira e com álcool mais alto que os congeneres franceses, em torno de 14-14,5%. As melhores regiões do Chile para a PN são as regiões mais frias, mais próximas ao oceano Pacífico e mais ao norte, como Casablanca, San Antonio, Leyda, Limari, Elqui, e ao sul, Bío-Bío. No Brasil, embora as melhores uvas de PN sejam usadas para espumantes, alguns bons tintos já começam a surgir.
Curiosidade: o sucesso do filme “Sideways” (em portugues “Sideways – entre umas e outras”, de 2004), cujo personagem principal adorava Pinot Noir e detestava Merlot, fez com que as vendas de Pinot Noir disparassem nos EUA enquanto as vendas de Merlot caíram.
VINHOS BRASIL
CHILE
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las-pizarras-pinot-noir-2014-errazuriz
ALEMANHA
spaetburgunder-pinot-noir-2012-fuerst-hohenlohe-oehringen
FRANÇA
la-romanee-conti-1978-domaine-de-la-romanee-conti
vosne-romanee-1er-cru-cros-parantoux-1985-henri-jayer
Agradecemos ao jornalista Marcelo Copello pela disponibilização deste excelente material em nosso portal. Para conhecerem tudo sobre vinhos acessem seu portal: http://www.marcelocopello.com.
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